Há um bom tempo fiz um post sobre palavras feias e bonitas. Uma situação do momento, aliada a um post sobre palavras lido no "Um pouco de mim" da Elaine, lhe deram origem.
A beleza das palavras está muito mais no sentimento que representam do que no seu som ou grafia; há uma associação imediata da nossa mente e coração.
Hoje venho falar de uma palavra/sentimento lindos: confiança.
Todos os que convivem com animais e os amam, sabem que não há nada que nos enterneça mais o coração do que nos vermos objeto de sua confiança. Este sentimento nos inspira o desejo de melhorarmos a cada dia, para nos sentirmos merecedores dele.
Qual foi a situação do presente momento que inspirou este post? O retorno do Chuviscão e a situação em que ele ocorreu.
Quem nos acompanha há mais tempo sabe que Chuviscão é um visitante que, como todo gato, nos conquistou. Mas Chuviscão se afastou durante um período longo, alguns meses. Acredito que o que gerou este afastamento foi o fato de Luvinha Sarnowski haver se tornado adulto e se transformado em xerife de nosso pátio e redondezas, não gostando nada de visitas.
Pois bem, na semana passada (acho que foi na quarta feira) Chuviscão retornou. Ao chegar em casa, meu marido falou: tem um gato lá em cima do pátio do gatil; será o Chuviscão? Ele está brabo, rosnou para mim! Já coloquei comida para ele.
Subi na escadinha e era ele mesmo; emitia um miado forte, diferente do habitual, que me pareceu de dor ou tristeza (palavras feias...). Apesar de não apresentar nenhum machucado aparente e sua parte dianteira estar normal, a traseira estava chupada, esquálida. Falei com ele e veio receber meu carinho.
A partir daí não saiu mais da volta; desceu em nosso pátio e notei que mancava, uma de suas patas traseiras estava dura. Passou dois dias na casa dos Sarnowski em cima da lavanderia, depois mudou-se para o abrigo feito para eles no pátio.
O que fazer? Tentar prendê-lo para levá-lo ao Vet, correndo o risco de que conseguisse fugir e não voltasse mais, perdendo a confiança em nós? Alimentá-lo bem e várias vezes ao dia e acompanhar para ver se conseguia se recuperar sem outro tratamento? O apetite demonstrava que não estava realmente doente pois, quando isso acontece, a primeira coisa que se vê é a inapetência.
Optamos pela segunda opção, mantendo-nos atentos para, caso não funcionasse, partirmos para a primeira. Acho que está funcionando: já engordou um pouco, seu miado é baixinho como antes, não bufa mais, ou seja, não demonstra mais dor. Ainda manca, mas também nisso já está melhor.
E Luvinha? No primeiro dia cheguei a assistir uma patada que fez com que ralhasse com ele e explicasse que o amigo estava dodói.
O que aconteceu? Outra palavra linda, como o sentimento que representa: solidariedade. Mais uma vez os animais nos dando lição de vida: Luvinha (como todos os outros Sarnowski), solidariamente, aceitou a presença do Chuviscão.
E a confiança? Foi o que Chuviscão demonstrou ter por nós. Em um momento de fragilidade e necessidade, após tanto tempo afastado, ele recorreu a nós, confiando em que o abrigaríamos e cuidaríamos.
Tu me fazes melhor meu querido, pois quero ser digna da tua confiança.
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Chuviscão (foto antiga - máquina sem pilhas - prometo novas em breve) |